quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Crítica: O Mestre


Diretor de Magnólia, Boggie Nights, Embriagados de Amor e, de um dos meus filmes favoritos, Sangue Negro, Paul Thomas Anderson é um dos mais aclamados diretores da atualidade. Sua direção é genial em todos os filmes que faz. Indicado em três categorias do Oscar, O Mestre é o filme menos prodigioso de PTA, e ainda assim, melhor do que a maioria dos filmes de Hollywood.

O Mestre tem início ao término da Segunda Guerra Mundial, contando a história de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) tentando reconstruir sua vida, enquanto é domado pelos instintos mais básicos do ser humano. Viciado em bebidas e sexo, ele sofre com ataques de ansiedade e violência. Um dia, ele invade de forma clandestina o barco de Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), autoproclamado escritor, físico nuclear, filósofo e líder de uma organização religiosa conhecida como “A Causa”. Dodd praticamente adota Quell como membro da família, provocando reações controversas em sua esposa, Peggy (Amy Adams), o filho Val (Jesse Plemons) e no genro Clark (Raimi Malek), marido de Elizabeth (Ambyr Childers).

Quell e Dodd são dois personagens muito curiosos e cativantes. Nem um dos dois tem suas motivações expostas de cara. Aliás, durante todo o filme, suas motivações ainda são dúbias. O interesse que Dodd apresenta por Quell aparenta ter vários significados, assim como a resposta de Quell por esse interesse. Uma relação que alterna de fraternal para uma relação de pai e filho e, por que não, de mestre e aprendiz.




O elenco é excelente, com destaque para o trio principal. Joaquin Phoenix, com uma atuação um tanto quanto exagerada, interpreta bem esse homem violento, simbolizando o “animal” compulsivo e irracional que “A Causa” tanto rejeita. Seus traumas se manifestam como um peso invisível em suas costas, que tornam seus ombros curvados e, por vezes, até incômodo de se olhar. Phillip Seymour Hoffman, com uma atuação mais comedida do que a de Phoenix que seu personagem pede, encarna Lancaster Dodd, um personagem tão enigmático quanto Quell. Hoffman e Phoenix sustentam as cenas de forma magistral. A personagem da Amy Adams, Peggy, representa a razão em meio a isso tudo. Ela se mostra tão carinhosa quanto opressiva.

A cena da divisão de celas deixa muito clara a personalidade de Dodd e Quell. Os dois estão presos, mas enquanto Quell tem seu ataque e começa a destruir a cela, Dodd se mostra calmo, até à hora da discussão. Mais uma vez deixa clara a figura de “homem” e “animal” que é mencionada nos ensinamentos d’A Causa. Dodd é o “homem”, acostumado a viver “preso”, enquanto Quell é o “animal”, acostumado a ser livre e que não suporta a ideia de estar preso.

O Mestre não é mais do que um filme sobre uma religião, seja criticando ou enaltecendo-a. O Mestre  um relacionamento de mentor e aprendiz, de pai e filho. Quell e Dodd aprende um com o outro. Dodd, que se mostra tão sereno, tem seus momentos de explosões, enquanto Quell se esforça ao máximo para aprender os ensinamentos de seu mestre. Um começa a adquirir características da personalidade do outro.

Em certo momento do filme, Dodd discursa sobre o dia em que domou um dragão. Quell representa esse dragão, um animal perigoso e imprevisível, enquanto Dodd é o seu domador. A primeira parte do filme nós somos apresentados a esse dragão. A segunda parte é o processo sobre como domesticá-lo. A missão do Mestre é domesticar esse dragão para provar seu valor aos seus seguidores. Essa é a questão final do filme: Quell é "domesticado" ou continua o mesmo "animal" que era no começo da trama?

Paul Thomas Anderson, embora não esteja na sua melhor direção, nos brinda com um ótimo e intrigante filme. Merecidas suas indicações ao Oscar, embora mereça estar também nas categorias de “Melhor Diretor”, “Melhor Roteiro” e, porque não, “Melhor Filme”. O Mestre é mais do que um filme sobre a cientologia, é um estudo profundo e visceral de personagens.



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