quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Crítica: Django Livre (Django Unchained, 2012)


A esta altura, Quentin Tarantino já é um patrimônio do cinema – e um ícone americano. Sua trajetória cinematográfica já é amplamente conhecida e debatida, tanto quanto sua própria trajetória pessoal. Quem nunca escutou a história de como o diretor foi trabalhar numa locadora só para poder ficar vendo filme?

Tarantino é o nerd original. E, como todo bom nerd, se refestela num banquete de referências em tudo o que faz. E suas referências vão desde quadrinhos, TV, filmes de baixo orçamento da década de 70 até os grandes clássicos, culturas orientais e além.

Eu ouvi de uma amiga a observação de que esse acúmulo de bagagem faz com que o Tarantino crie filmes americanos, para um público americano, mas com temas que fogem da cultura americana. E eu peço licença para discordar.

Tarantino sempre foi um voraz consumidor do que o mundo da arte do entretenimento produz. Sua própria arte é o produto assimilado e reconstruído desse consumo absurdo, e ele usa o humor e a violência estilizada como meio de narrar suas próprias histórias de referências. Tarantino é, portanto, um produto do consumismo. Mais americano impossível. E como as culturas ao redor do mundo assimilam em muito o cinema dos EUA para ir se definindo, logo, a obra de Tarantino também é global.

E agora, com seu Django, um faroeste – afinal, o estilo mais americano de todos – Quentin Tarantino chega a um outro nível.





Django Livre não é meu filme preferido do diretor. Em alguns momentos, é um pouco cansativo até e nem de longe tem atuações e cenas tão memoráveis quanto, por exemplo, Bastardos Inglórios. E, aliás, a história de vingança do Velho Oeste também não rendeu um filme tão bem estruturado e acabado como a vingança judaica. Mas é um ótimo filme, de toda forma.

Deveria, na verdade, ser chamado de Tarantino Unchained. A impressão que se tem é que tiraram um Tarantino sedento da coleira e ele aproveitou pra perder a linha, do jeito que ele tão bem sabe fazer. E poucas coisas são tão divertidas em sua filmografia quanto uma certa sequência de tiroteio em Django – literalmente, um banho de sangue.

Tarantino está à vontade, fazendo o filme que sempre quis fazer: um faroeste bem a seu jeito. Todas suas maiores referências, de toda sua carreira, estão lá, como a lenda viva Ennio Morricone, que assina uma canção original. E outras homenagens são disparadas a todos os lados, bem ao modo do “gatilho mais rápido do sul”: as belas panorâmicas de Sergio Leone, os closes absurdos dos western spaghetti e até uma participação do Django original, Franco Nero.

Todas as referências a serviço de seu novo conto de vingança, a jornada do escravo liberto Django pelo sul dos EUA. Uma trama polêmica de um período polêmico da História, mas que funciona num intento de apontar o nascimento da cultura negra no país. Não à toa, Django é um herói de blaxploitation, que cavalga orgulhoso pelo oeste sem fim ao som de blues e hip hop. E o herói vai à forra, com vontade, contra seus algozes e o racismo é ridicularizado, diminuído. Neste sentido, há inclusive uma ótima cena que, se eu não soubesse que fora concebida pela mente maluca do Tarantino, podia jurar que havia sido escrita pela equipe de redatores dos desenhos do Seth McFarlane.

No fim das contas, são quase três horas da vingança plena de Quentin Tarantino. Que não só mata a alma: também explode o corpo. Em centenas, milhares e milhões de pedacinhos sangrentos e divertidos.
Quem compartilhar vai ganhar um fantástico abraço!!!
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