Nota do Sali: Quando fiquei sabendo da morte do cantor Chorão passei quarenta minutos redigindo um texto sobre o assunto, pelo simples fato de que eu tinha algo a dizer. Logicamente, esse texto veio parar no Reduto. Minutos depois percebi que na caixa de rascunhos do blog, havia um texto recém adicionado do Leandro Samora sobre o mesmo assunto.
Nas palavras dele: "Eu não quero atropelar a homenagem ao Chorão, que ficou muito bonita, por sinal. Mas é que, sei lá... como não fã da banda, e com uma óptica um pouco diferente, eu acabei escrevendo em edital, alguma coisa assim, com a minha visão do evento . Minha visão bem pessoal...". "...Se não achar pertinente, publico em outro lugar".
Oras, como eu poderia impedir a veiculação desse texto dentro da sua própria mídia, Leandro Samora?
Nunca fui fã do Charlie Brown Jr. A estética da banda nunca me agradou, assim como a maioria das músicas. Acompanhei alguns sucessos, com respeito solene. É sempre bom ressaltar, nos dias de hoje, que o fato de não gostar de alguma coisa não implica em ódio. Da calçada por onde eu sempre caminhei, vi o Charlie Brown aprontando a bagunça na rua.
Na minha época de colégio, a banda estava no auge. Era difícil ignorar suas canções, assim como também era difícil ignorar sucessos muito mais perecíveis, como uma ou outra música dos Detonautas, por exemplo. Lembra deles?
Mas o Charlie Brown Jr, com uma carreira muito mais bem consolidada, era uma outra coisa.
A banda do Chorão sempre foi uma coisa essencialmente jovem. Era uma voz, uma expressão de um grupo que não era o meu, mas que vez ou outra resvalava no meu universo. Eu acho que este é o ponto fundamental.
Recentemente, vi o Chorão e sua nova banda (todo o resto do Charlie Brown original havia pulado fora há algum tempo) num programa de TV. Na Xuxa, para ser mais exato. E aquilo me causou um certo mal estar. Porque o vocalista, mais velho, no alto de seus quarenta e tantos, parecia tão fortemente apegado à sua juventude, que soava quase tragicômico. Eu vi um adulto fantasiado de adolescente tentando, a qualquer custo, se agarrar à ideologia e à graça de tempos passados. Dois, se formos contar a Xuxa também. O Chorão se recusou a crescer, a amadurecer, na minha opinião.
Eu não fui jovem na minha adolescência. Recusei ao máximo a dádiva de não me preocupar e o alvará para fazer besteiras sem consequência, me escondendo atrás de um verniz capenga de responsabilidade e opiniões firmes. Mas de vez em quando...
De vez em quando vinha a simplicidade da poesia juvenil do Chorão destruindo de forma avassaladora a minha intelectualidade mal formada. Que besteira a gente se privar do sentimento aberto!
Muitas músicas acabaram acertando em cheio momentos bastante específicos. Me incomodava porque, a cada vez que eu me reunia com meus dois ou três amigos e nós fazíamos ecoar pelos corredores empoeirados do Cotuca os primeiros acordes de “Só por uma noite”, era aquele adulto, agarrado à sua jeventude, me fazendo lembrar que eu também era jovem. E que as minhas atitudes erradas que eu insistia em tomar e que a todo momento me afastavam daquela menina, “Aquela”, a escolhida para todo o sempre – ou quanto durasse os três anos do colegial – não tinham nada de complexidade poética dos grandes mestres. Era só eu, como adolescente pateta, fazendo besteira.
Não tinha segredo nos meus casos de desamor. Não tinha mistério. O erro era meu, e eu errava porque era jovem. É o que os jovens fazem! E, por mais que eu não quisesse aceitar ou por mais que eu quisesse buscar motivações maiores e definitivas para minha revolta, no fundo eu sabia que era só ouvir a voz dela que eu me sentiria bem. Simples.
O Chorão é que foi esperto, no fim das contas, se ele realmente resolveu se agarrar à esta fase tão boa. Sacanagem foi ele não ter, afinal, tido a oportunidade de realmente envelhecer e entender isso. Talvez tivesse sido interessante ouvir o que ele teria a dizer sobre essa terra ainda mais estranha que é a vida adulta.
Mas e daí? Só por uma noite, a gente não precisa pensar nisso.
Muito bom garoto, muito bom!
ResponderExcluirDescreve muito bem os fatos, fantástico tua facilidade na escrita, continues a progressão, afinal...só por uma noite pode ser todos os dias.
ResponderExcluirObrigado, Fábio! Fico feliz de poder compartilhar um pouco dos meus pensamentos com o nosso público tão bacana!
ExcluirUm abraço!