Em cada rua escriturada em que ando,
Onde o Tâmisa escriturado passa,
Eu nos rostos que encontro vou notando
Os sinais da doença e da desgraça.
Ouço nos gritos que os adultos dão,
E nos gritos de medo do inocente,
Em cada voz, em cada interdição,
As algemas forjadas pela mente.
Se o Limpa-chaminés acaso grita,
Assusta a Igreja escura pelos anos;
Se o soldado suspira de desdita,
O sangue mancha dos muros palacianos.
Mas o que mais à meia-noite é ouvido
É a rameira a lançar praga fatal,
Que estanca o pranto do recém-nascido
E empesteia a mortalha conjugal.
Esse ano o Reduto Brainstorm pretende se dedicar mais à Literatura, pois o nosso público-alvo são pessoas cultas e sensíveis, amantes do conhecimento e da arte. E abrimos o ano com um poema de William Blake, Londres.
William Blake foi um poeta e pintor inglês, contemporâneo do Iluminismo e da Revolução Industrial. Entre suas principais pinturas estão as ilustrações para O Livro de Jó e A Divina Comédia, de Dante Alighieri - trabalho interrompido por sua morte. Entre as obras literárias destacam-se Canções da Inocência (1789) e Canções da Experiência (1794) em que Blake demonstra suas tendências libertárias criticando duramente o Estado e a Igreja. Londres pertence a esta fase e sintetiza o desgosto do autor pela sociedade e pelo que se tornou sua tão amada cidade. Em 1790, publicou sua prosa mais conhecida, O matrimônio do céu e do inferno, em que formula uma posição religiosa e política revolucionária na época: "a negação da realidade da matéria, da punição eterna e da autoridade". Morreu em 1826 depois de trabalhar exaustivamente nas ilustrações para A Divina Comédia. Como muitos outros artistas, morreu pobre e incompreendido, mas hoje é um dos principais poetas iluministas.
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