sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Laranja Mecânica

Laranja Mecânica pertence à famigerada categoria "filmes que todos conhecem de nome, mas não fazem ideia do que se trata". Do renomado diretor Stanley Kubrick (Nascido Para Matar, 2001 - Uma Odisseia no Espaço), o filme de 1971 é uma adaptação do livro homônimo de 1962 do escritor Anthony Burgess, que conta a história do jovem Alex , um garoto de 14 anos líder de uma gangue conhecida como Os Drugues - do russo drug, amigo.

Alex e seus comparsas usam um dialeto próprio para se comunicarem, o nadsat, uma mistura de inglês, russo e gírias do subúrbio inglês. Esse é o primeiro diferencial do filme, que tem uma assinatura bem forte. O filme já começa com uma cena marcante. Alex e os drugues sentados num sofá da Leiteira Korova - o quartel general da gangue, decorado com manequins de cabelo colorido em posições sexuais - enquanto o líder do grupo inicia a narração.

"Éramos eu, ou seja, Alex, e meus três drugues, ou seja, Pete, Georgie e Dim. Estávamos na Leiteira Korova tentando rassudocar o que faríamos naquela noite. A Korova servia milk-plus, leite com vellocet, sintemesque ou drencrom, que era o que bebíamos. Ele aguça os sentidos e te deixa pronto para um pouco da velha ultra-violência."

AVISO: SPOILERS LEVES. 

Como se pode perceber o filme tem uma linguagem complicada e o livro mais ainda - tanto que vem com um glossário incluso.  Expressões como in-out in-out, vide well, moloko, ultra-violência e horrorshow são usadas frequentemente e te ajudam a entrar na loucura do narrador. A gangue de Alex aterroriza os subúrbios londrinos depredando, agredindo, humilhando e estuprando quem aparece pela frente, mas apesar dos temas pesados o filme é relativamente leve. Talvez exatamente com esse propósito, o de suavizar o impacto da história no espectador, Laranja Mecânica parece uma peça de teatro gravada e editada para o cinema. Os personagens falam e se movimentam como num espetáculo teatral, a trilha sonora é quase toda de música clássica e certas maquiagens e figurinos são pretenciosamente exagerados. Tudo isso me fez dizer "ok, eu estou vendo uma peça de teatro, não posso levar o filme muito a sério pois essa não é a proposta" e te aconselho a fazer o mesmo.

O filme se divide em três partes, antes, durante e depois da prisão. Alex é um jovem rebelde acompanhado de perto por um conselheiro tutelar, mas quando sua gangue se excede e mata uma vítima, seus drugues o traem e o entregam à polícia. Na prisão Alex tenta se recuperar e aceita uma terapia experimental. O tratamento o torna incapaz de qualquer ato de violência (nem mesmo em defesa própria), bem como de tocar uma mulher nua. Como efeito secundário, também não consegue ouvir a 9ª Sinfonia de Beethoven — que era sua peça favorita. Recuperado e devolvido à sociedade, Alex vê a situação se inverter: suas antigas vítimas e companheiros o agridem, sua família o renega e Alex passa a ser usado pelo partido de oposição como símbolo da incompetência do governo em fornecer segurança e paz aos jovens. Laranja Mecânica é uma crítica à sociedade inglesa dos anos 60 em específico, mas se encaixa muito bem no cenário mundial moderno - um mundo tomado por jovens violentos e inconsequentes, e um sistema incapaz de recuperá-los.


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