Sucker Punch (no Brasil, Sucker Punch - Mundo Surreal) é um filme de 2011 escrito e dirigido por Zack Snyder (Madrugada dos Mortos, 300, Watchmen, A Lenda dos Guardiões). Como tudo que seu criador faz, Sucker Punch é polêmico e divide opiniões - uns acham infantil, pretensioso e desnecessário, outros acham deslumbrante e bem produzido.
Mas antes de falar sobre o filme, vale abrir um parêntese para Zack Snyder. Se você não o conhece, saiba que Zack quase chegou ao panteão dos grandes diretores nerds - ao lado de Tarantino e Christopher Nolan - depois do excelente remake de Madrugada dos Mortos, um clássico dos filmes de zumbi (quer assunto mais nerd que esse?), e da adaptação da HQ 300 para o cinema. Mas em 2009 o garoto prodígio assumiu a bronca da adaptação de Watchmen, a HQ mais venerada de todos os tempos, cuja adaptação estava de molho há mais de 20 anos. Como a própria história não facilitava o trabalho do cara (entendedores entenderão) e ainda por cima tinha um verdadeiro exército de fãs xiitas, o filme não agradou e Zack caiu muito no conceito dos nerds. Sucker Punch chegou no meio do fogo cruzado, e embora não seja um filme memorável, muita gente não gostou simplesmente por ser de Zack Snyder.
Mas Sucker Punch não é um filme ruim; tem seus prós e seus contras. Começando pelos prós, o filme tem uma história interessante. A protagonista Babydoll (interpretada pela linda atriz Emily Browning) é internada num hospício por seu padrasto, que deseja se livrar da moça para pegar sua herança. Lá, em meio ao sofrimento e à loucura das jovens internas, Babydoll elabora um mundo de fantasia para onde escapa, enquanto arquiteta um plano para fugir do hospício e evitar a lobotomia com a ajuda de suas amigas. Sucker Punch bem que poderia ser um drama, pois alem de uma protagonista injustiçada e incapaz de se defender, o filme flerta com o tema da submissão feminina de uma forma pouco agradável.
O prólogo da história é contado numa espécie de videoclipe, que mostra logo de cara dois pontos fortes do filme; a trilha sonora e a fotografia.
A trilha sonora, aliás, é um amálgama de hits conhecidos repaginados conforme o espírito do filme, e ainda com um toque especial; Zack Snyder botou os atores para cantar! As covers de Beatles, Eurythmics, The Smiths, Queen e Pixies contam com vozes de Emily Browning, Oscar Isaac e Carla Gugino (minha preferida é Asleep interpretada por Browning), alem da música-tema de Bjork que tambem é excelente.
A fotografia varia de um "mundo" para outro; o hospício possui um tom azulado, já o bordel em que Babydoll o transforma tem cores vivas, predominantemente um azul turquesa de encher os olhos, e cada novo cenário possui suas próprias cores-chave. Outro marcante elemento visual são as heroínas-beldades em trajes fetichistas (uma fantasia que esconde uma obscura realidade do sanatório, mas se você é machista ou um nerd babão, não vai ligar nem um pouco pra isso).
Mas o filme foi vendido não só por seu visual, mas tambem - e principalmente - por sua ação. Consumidor ávido de cultura pop, Snyder presta uma homenagem aos seus temas preferidos nas aventuras imaginárias de Babydoll e sua trupe; anime, steampunk, fantasia medieval, ficção científica e até musical burlesco emprestam o visual e a linguagem para a aventura.
Infelizmente, Zack Snyder não se contentou em fazer um blockbuster juvenil. Apesar da história interessante, ritmo videoclíptico, ótima trilha sonora, visual deslumbrante e ação desenfreada em vários universos da cultura pop, Sucker Punch peca em tentar parecer mais profundo do que realmente é. O final da história propriamente dito me deixou satisfeito - embora não seja agradável, é compreensível -, mas o filme se encerra com uma lição de auto-ajuda tão ridícula que dá raiva (pra gostar do filme, eu finjo que ela não existe). Algum tempo depois de assistir me peguei pensando: se fosse um projeto de Guillermo Del Toro, um diretor nerd mais sóbrio e respeitado que Snyder, Sucker Punch seria um drama-fantasia de respeito, daqueles que você se deslumbra com o visual e se vê preso pela história, mas eu acho que o diretor já fez isso e se chama O Labirinto do Fauno - cujo final é de cair de joelhos e chorar.
Enfim, eu recomendo Sucker Punch como filme de nicho, cuja história poderia ter sido melhor aproveitada, mas que não desaponta pelo entretenimento.
Eu fiquei fissurada nesse filme desde o primeiro trailer. Minha revolta é que não tenha estreado no cinema (pelo menos não aqui em BC :/).
ResponderExcluirEu sinceramente não acho que um filme que tenha zumbis, orcs, dragões, robôs gigantes, samurais e garotas vestidas de colegial com katanas e metralhadoras possa ser ruim. Vejo muita gente reclamando do filme, mas a maioria não gosta por ser justamente o tipo de público que ele não pretende atingir (não entendo essa galera que vai ver filme de um gênero que não gosta pra depois sair falando mal).
Enfim, acho que Sucker Punch é uma bela homenagem aos fãs de games e HQ. Você pode ir parando o filme em praticamente qualquer parte, o enquadramento da cena vai parecer uma página de HQ. <3
Oi Bru! Obrigado pelo comentário.
ExcluirRealmente, o enquadramento me lembrou bastante a de uma HQ tbm. Isso é um mega ponto a favor!!!
Concordo também que falta nas pessoas a noção de que existem filmes diferentes, para públicos diferentes, e que não necessariamente os tornam bons ou ruins.
"Sucker Punch peca em tentar parecer mais profundo do que realmente é."
ResponderExcluirLi essa frase 10 vezes e sinceramente não acreditei. Um filme que trata da exploração sexual que um grupo de garotas sofre num sanatório não é suficientemente profundo?
E a propósito caso não tenham notado a Babydoll não "elabora" nenhum mundo de fantasia, na verdade ela era a única sã no grupo, a louca da história é a Sweet Pea.
O filme é extremamente compreensível para aqueles que se dipõem a assisti-lo mais do que uma vez.
Sempre que posso passo por aqui para ler os posts e dessa vez me decepcionei demais.
Caro anônimo, o que eu diz dizer quando disse isso é que a "lição de moral" ao final do filme não acrescenta em nada ao drama desenvolvido durante. Na minha humilde opinião de merda (lembre-se que provavelmente eu tenho a mesma idade que você ou seja até mais novo, e escrever sobre filmes não faz de mim um crítico), o drama de Sucker Punch é subdesenvolvido; muita gente não entendeu o contexto de exploração sexual, por isso eu o deixei beme vidente na resenha.
ExcluirQuanto ao fato de ser Sweet Pea que elabora os mundos de fantasia você está certo, mas como isso só é revelado NO FINAL DO FILME, tecnicamente seria spoiler =/.
Mas seu comentário foi pertinente e mostra muito bem as discussões acaloradas que o filme provoca.