Tire toda a ação e deixe apenas os dilemas. Tire os super poderes e deixe as deformidades. Tire as cores berrantes e deixe apenas preto e branco. Tire os mentores e deixe apenas os jovens. Tire todo tipo de instrução e deixe apenas a ignorância. Adicione mais preconceitos, bullyng, deformidades grotescas e os complicados e conhecidos anseios de todo adolescente se transformando em adulto.
Na década de 70, em Seattle, uma doença sexualmente transmissível e que atinge apenas os jovens, está causando mutações. Assim como os coloridos mutantes da Marvel Comics, os doentes sofrem preconceito pela sociedade, que não está preocupada em aceitar ou curar esses jovens.
E então, surge Black Hole, de Charles Burns.
A juventude alienada
Os jovens, sem suporte ou informação, fazem o que julgam ser a solução para os seus problemas: se isolam em uma floresta e passam a viver, precariamente, num acampamento para mutantes, dormindo durante o dia fazendo pequenos furtos (fast foods, refrigerantes e chocolates) de noite. No passar dos dias, mais mutantes chegam ao acampamento, a falta de informação faz a doença disseminar e o preconceito os força a não saírem da floresta. Esse círculo vicioso apenas colabora com a exclusão social. É evidente que não há, ali, nenhuma esperança ou esforço para mudar sua condição. Daí o nome da obra, Black Hole.
O amadurecimento
Usando esse contexto como plano de fundo, a trama se desenvolve no amadurecimento de dois jovens, que são forçados a crescer diante dessa sociedade em colapso e após ocorrerem estranhos desaparecimentos e assassinatos. Toda a transformação pela qual eles passam é referenciada através de imagens sexuais, pesadelos, alucinações, drogas, violência e opressão. É, portanto, uma história em quadrinhos de terror. Não há ação, combates ou heróis, apenas sobreviventes.
Todas essas nuances são apresentadas com o pesado traço do nanquim, deixando claro que não há meio termos entre o preto e o branco e, para aqueles jovens, há apenas o Black Hole. Por fim, essa premiada HQ (vencedora do Prêmio Eisner de Melhor Graphic Novel em 2006 e de mais nove Prêmios Harvey) é essencial para quem aprecia histórias em quadrinhos ou apenas ótimas histórias.
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