Esse post será um post sincero.
Pode ser que, depois de ler o que
tenho crever, você queira acreditar ainda mais no sonho de ser escritor
profissional. Pode ser que você desista dele.
Sinceramente eu não posso tomar
essa decisão por você nem sei o que será melhor para a sua vida, mas de uma
coisa eu sei com certeza: nós dois já estabelecemos uma relação de sinceridade
mútua, embora haja toda uma parnafernália eletrônica entre as questões que eu
levanto e as que você comenta. Não importa; o que importa é que eu sou sincero
quando escrevo e você é sincero quando me escreve ou mesmo me cede um minuto da
sua atenção.
O fato é que hoje em dia existem
milhões de pessoas querendo se tornar escritores profissionais, e existem
apenas dez lugares na lista dos best-sellers. Nesse momento, uma única escritora
ainda reservou cinco desses assentos só para ela e, quanto mais rica ela fica,
por mais tempo ela irá renovar essa reserva VIP. Logo, hoje eu vou lhe falar sobre
algumas regras desse jogo difícil chamado “mercado editorial”.
E, bom, eu não sei se você é do
tipo que insiste no impossível ou que se agarra ao coerente; mas acredito com
certeza que ao menos indiferente você não irá ficar.
Quer saber? Puxe uma cadeira, meu
amigo; eu tenho coisas a lhe dizer…
Mensagens rápidas, selecionando apenas alguns trechos, enviadas via protestos, twitter, orkut ou e-mail (contato@raphaeldraccon.com):
ÁLISSON: (…) enfim.. como
disse.. estou escrevendo um livro… gostaria de saber os primeiros passos que
tenho que dar pra começar a tornar isso realidade?
WILLIAN: (…) fala sobre o
mercado editorial no blog depois, fica como sugestão…
ANA: (…) Quero apenas
perguntar quais foram os meios que voce usou para conseguir esse admiravel
feito de editar seu livro. (…)
AMÉRICO: (…) Há um ano e
meio eu montei um projeto, com a intenção de escrever uma serie de 5 livros,
estou ainda escrevendo o meu primeiro (…)
ELDES: (…) Também gostaria
que me falasse do processo que antecedeu a publicação do livro. (…)
VITOR: (…) Outra pena foi
quando você disse “hoje todo mundo está escrevendo um livro”, porque… bom, porque
é verdade. Isso me entristece na medida que eu sonho escrever um também.
ahahahah
ELZANI: (…) Sei que voce e
muito ocupado e pode nao responder a este e-mail, mas se possivel gostaria de
tirar algumas duvidas com voce sobre uma publicacao futuramente. (…)
Essas são apenas algumas mensagens
recolhidas de maneira rápida por aqui dentre as muitas que tocam no mesmo
assunto: escritores ainda não publicados pedindo conselhos a escritores que
caminharam um pouco mais à frente do mesmo caminho que querem trilhar.
Isso é natural: eu recebo tais mensagens, como André Vianco recebe, como Thalita Rebouças recebe, como Stephen King ou Neil Gaiman receberão até depois da morte (não duvide de nada em se tratando de escritores fantásticos).
Isso é natural: eu recebo tais mensagens, como André Vianco recebe, como Thalita Rebouças recebe, como Stephen King ou Neil Gaiman receberão até depois da morte (não duvide de nada em se tratando de escritores fantásticos).
O que vou escrever abaixo eu já
havia escrito antes, mas como as dúvidas sempre persistirão, e como o
“Sedentário…” tem um alcance ainda maior de pessoas, acho relevante que eu o
repita.
O fato é que não há uma regra; cada
escritor chega lá por um caminho completamente diferente do outro. E se você
chegar lá, provavelmente o seu caminho também será bem original. O que podemos fazer é relatar um
pouco de nossas experiências, ou do que aprendemos com nossas experiências, com
o intuito de que você tenha suas próprias idéias de como fazer isso. As dúvidas que todos têm já foram
também as minhas antigamente, e, para o bem ou para o mal, as respostas até
hoje ainda permanecem as mesmas de qualquer época.
Bom, o que eu teria a dizer então…
Eu poderia lhe dizer que é preciso ler muito, mas qualquer um poderá lhe dizer isso, até mesmo quem nunca publicou um livro. E se isso é preciso ser dito a você, provavelmente você não nasceu para escrever profissionalmente.
Eu poderia lhe dizer que você deve
pesquisar bem o histórico de cada editora e descobrir antes de enviar seu
original se aquela editora realmente publica, ou se interessa em
publicar, o estilo literário que você pretende narrar (e se você não pensou
nisso, corra atrás do carteiro enquanto pode antes de desperdiçar dois gordos
dígitos em xerox e Sedex).
Eu poderia dizer que você não deve
desistir, e que se acreditar de verdade no seu sonho no fim tudo vai dar certo,
e que se ainda não deu certo é porque não chegou ao fim. Mas escolha qualquer
livro na lista dos mais vendidos de auto-ajuda e ele irá lhe dizer coisas assim
de maneiras muito mais rebuscadas do que as minhas (e que se estão figurando
naquela lista foi porque funcionaram para seus autores). De fato, eu poderia dizer um monte
de coisas que você irá encontrar (e já deve ter encontrado) pela web de outros
escritores ou editores comentando sobre o mercado editorial brasileiro.
Dessa forma, o que poderia lhe
dizer de diferente?
Bom, como citei no início, vou ter
um ataque de sinceridade, e dizer coisas que podem poupar seu tempo de investir
nessa profissão realmente ou não.
Vamos lá:
Você, como escritor amador, vai ser
recusado em praticamente todas as editoras que enviar sua obra, e a maioria
delas nem vai ler seu original (e não as culpe; o número recebido por semana é
estupidamente espetacular), e isso não importa quantos anos você tenha.
As pessoas não o levarão a sério, e
até a maior parte da sua família vai fazer pressão para você arrumar um emprego
de verdade. Nas reuniões familiares, eles olharão de relance para você
exatamente com o mesmo olhar de desgosto que um vizinho ateu, amante de Richard
Dawkins, dedicaria a um evangélico que fosse à porta dele pregar a palavra de Deus. E ouça sua família: você realmente
vai precisar de um emprego secundário até seu livro vender o suficiente (isso,
claro, se ele vender o suficiente).
Você vai precisar ser seu principal
divulgador.
Você vai precisar falar de temas
que conhece e de uma forma que ninguém tenha feito antes.
Você vai precisar não ter sido uma
criança normal.
Vai ter de aprender na marra que
uma técnica própria e uma boa redação lhe fará um bom escritor. Um universo
próprio que só você possa alimentar lhe fará um autor.
Você precisará gostar do mundo. Ou
odiar o mundo. Mas em hipótese alguma ser indiferente a ele.
Você encontrará gente falando mal
do seu trabalho antes mesmo que ele chegue às livrarias.
Você terá de entender que toda
dificuldade faz parte do processo. Você precisa ser testado até o limite;
testado até querer desistir, mesmo para saber se você merece. Também é preciso
muita; muita paciência. “Dragões de Éter” levou 4 anos para ser publicado a
partir do momento em que foi finalizado, e esse é um tempo até relativamente
curto do que é possível se esperar.
Você irá ganhar maturidade e
experiência nesse tempo de espera.
Faça um dossiê da sua obra. Anexe
nela comentários críticos, desde que sejam de profissionais de leitura crítica,
e quaisquer documentos que comprovem que existe um público que consome o que
você escreve.
Use a internet; seja premiado em concursos literários; crie um blog. Entretanto, mesmo que você venha a se tornar um BlogStar, e acredite naqueles conselhos de família com olhares estranhos no jantar: isso não lhe dará dinheiro. Uma certa fama, talvez; prestígio, de repente; contatos, com certeza; amizades virtuais, sem dúvida; dinheiro para largar tudo e viver disso… NOT. Contudo, não leve a internet tão a sério. Se você passa mais tempo por semana em discussões inúteis de comunidades virtuais do que no solitário Word, então você não nasceu para o mercado editorial profissional.
Use a internet; seja premiado em concursos literários; crie um blog. Entretanto, mesmo que você venha a se tornar um BlogStar, e acredite naqueles conselhos de família com olhares estranhos no jantar: isso não lhe dará dinheiro. Uma certa fama, talvez; prestígio, de repente; contatos, com certeza; amizades virtuais, sem dúvida; dinheiro para largar tudo e viver disso… NOT. Contudo, não leve a internet tão a sério. Se você passa mais tempo por semana em discussões inúteis de comunidades virtuais do que no solitário Word, então você não nasceu para o mercado editorial profissional.
Tenha postura de escritor desde o
início. Preocupe-se com o seu trabalho; seus colegas escritores se preocupam
com os deles. E dessa forma todo mundo fica feliz e ninguém precisa fingir
simpatia quando se cruzar em eventos.
Peça a opinião de leitores
críticos, mas também não leve tudo muito a sério. Quando você pede opinião a
alguém, a outra parte se sente na obrigação de criticar qualquer coisa. E às
vezes ela estará certa; como às vezes estará forçando um conhecimento apenas
para parecer que mereceu ter sido escolhida. E se as pessoas soubessem com
tanta certeza o que será um sucesso ou não no mercado editorial, elas seriam
editores de sucesso ou estariam publicadas primeiro do que você.
Você precisará entender que todo
mundo escreve um livro, planta uma árvore e tem um filho. Mas nem todo mundo
nasceu para ser romancista, jardineiro ou assistente social por causa disso.
Se você quer escrever sem o intuito
de vender livros, apenas “por amor à camisa”, junte dinheiro para publicá-los
por conta própria e distribuir entre os familiares. Nem chegue perto da selva
do mercado editorial de verdade. Do contrário ele não se chamaria “mercado”, se
chamaria “ong editorial”.
Você tem de entender que é caro
para uma editora lançar um livro. E que quanto maior a tiragem, maior a pressão
para que você devolva o investimento deles. E que se você tiver uma chance e não
devolver o investimento deles, você morreu no mercado editorial.
Você tem de provar aos editores
porque o seu livro vai vender (ainda que a obra tenha uma qualidade literária
excepcional e indiscutível), e porque eles devem escolher você no meio
de milhares que querem a mesma vaga. Se você souber responder isso, aliás, já
está na frente da maioria.
Você terá de entender que não
importa quantos anos você tem, importa como você aproveitou esses anos. E que
ninguém pode tirar de você o que já está dentro de você. Mas que, para isso, é
preciso ter alguma coisa dentro de você.
Bom, é basicamente isso que eu
tinha a lhe dizer. O resto você mesmo irá descobrir.
Agora, se sabendo de tudo isso você
quiser insistir, e se, contrariando todas as leis da física você conseguir ser
publicado, não morrer no primeiro livro e sobreviver ao mercado editorial, aí,
meu amigo, prepare-se que a sua vida começará a mudar.
Afinal, ao menos as reuniões
familiares e seus olhares de relance já lhe passarão a ser muito, mas muito
mais interessantes…
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