quarta-feira, 13 de março de 2013

Poema: A Ordinária Odisseia

Nota do Sali: Alguns podem não saber, mas todos os blogueiros do Reduto Brainstorm são escritores! Apenas o Tainã Nascimento não está presente no Livro do Fim do Mundo da editora Subtitulo.
Como escritores, logicamente não poderíamos deixar esse espaço na internet passar em branco. Logo, vocês sempre encontram contos nossos espalhados pelo site. Dessa vez, trata-se de um poema muito bom que o Leandro Samora compôs.

A Ordinária Odisseia.




Nasceu um sujeito tão comum
Que sua mãe achou que José
Era um nome por demais extraordinário
E dessa forma não o chamou.

Assim, Não-José cresceu só
Tão vazio de amigos quanto de aventuras
Sem o prazer dos jogos – quiçá da leitura
E no escritório mais sem graça, por uma vida trabalhou.



Dia a dia marcou sua presença
Sem alguém para de fato apontar
Qualquer realização maior para elogiar
Se de fato houve algum feito, ninguém notou.

O tempo, porém, sempre traz mudança
E o relógio girou como ventilador.
Atendendo de nosso protagonista um clamor
Todo o mundo a seu redor transformou.

Nem toda renovação é boa
E desta vez, não foi diferente
Pois logo a vida de toda gente
Em pesadelo se tornou.

De lugar algum elas vieram
Misteriosas e esguias figuras,
Elegantes em suas capas de chuva
E chapéus de clara cor.

Sorrateiros, eles se infiltraram
Aos poucos, assumindo o controle
De tudo o que seus dedos tocaram
E sua ganância se lançou sobre.

Às sombras assomaram
Das catedrais e escolas
E num assalto tomaram
Os correios e as lojas

E estavam nos hospitais e creches
Até nas casas de tom vermelho
Altos escritórios e até nas sedes
Dos distintos clubes de cavalheiros

Não-José , que a poucos conhecia
Não reconhecia ninguém
E perdido, entre o que acontecia
Não era afetado, porém
Pois aqueles, de capas e chapéus
E sombras e controle, ao verem Não-José
Não julgaram que fosse alguém
E como toda aquela gente
O ignoraram também.

E sozinho num mundo alheio
Não-José se pôs a refletir
Pois solidão entre toda a gente
Sempre foi o seu sentir
Qual a diferença, pensou ele
Entre o antes e o porvir?
Qual seria sua obrigação
De heróico, intervir?
Qual! Herói é sempre amado
Pela gente a aplaudir
Mas num mundo devastado
Ninguém iria lhe assistir
Melhor esquecer quem o esqueceu
Melhor nem mesmo insistir...

Mas as sombras cresceram
E o Mal era evidente
Zumbis vivos tomaram as ruas
Na forma daquela gente.
De suas torres, sorriam
Os magnatas decadentes
Negociantes das almas,
Da atenção dos não-viventes
Refestelando-se em banquetes
Do controle de tantas mentes.
As crianças que brincavam
Nos escombros emergentes
Não notavam o perigo
Entretidas, alegremente
E os adultos, habituados,
Não se viam diferentes.

E o riso que ecoava
Nas paredes de concreto
Desprovido de alegria
Não soava tão correto.

As Trevas, por fim, tomaram
Tudo o que era conhecido
E as pessoas, cegas, não notaram
Acostumadas ao retinto.

Não-José estancou
Em seu silêncio contemplativo
E enquanto a paz lhe abandonava
Compreendeu o real motivo

Pois a Escuridão ignorava
Bem, Mal, solidão, amigo
Democrática, devorava
Qualquer coisa em seu caminho

Não-José podia viver só
Era condição, não castigo
Mas não podia viver cego
Privado do sonho-abrigo.

Sem público ou aplauso
- não era o herói do gibi
Mas destemido e valente
Não-José se pôs a subir

Ignorado pelo povo,
Ignorado pelo algoz
Não-José reforçou o aperto
Escalando mais veloz

A Torre se estendeu abaixo
E cada vez com mais urgência
Pois a Escuridão beliscava
Com vigor e violência

Estava no Topo do Mundo
Nosso anônimo Paladino
E ninguém lhe prestava conta
- mas que erro mais cretino!

Pois ignoravam a força
Deste homem tão pequeno
Que, desconhecendo o perigo
Foi enfrentar o seu veneno

Épico não foi, enfim
O simples movimento
Mas a ação gera a História
Quando tem seu entendimento.
Foi a vitória não da força
Quanto muito, o sentimento
Com a mão removeu o véu
Que nublava o pensamento.

O véu desceu.
Eis o que aconteceu:

Escuro.
Flecha.
Escuro.
Brecha.
Escuro.
Nós.
Escuro.
Sós.
Escuro –
NÃO!

Fato curioso sobre a Luz:
Ela vence a Escuridão.
Fato curioso sobre as Trevas:
Qualquer luz lhe’é perdição.

Aos poucos
Luz
Clareou
A imensidão.
Quando é dia
Se desperta
Trazendo
A
Razão.

Recolheram suas capas
Recolheram seus chapéus.
Ao escuro retornaram
Afogados em seu véu.

Pouco a pouco a cidade
Pouco a pouco acordou.
Não se deram mesmo conta
De tudo o que se passou.

Ao Ordinário, o Destino
A injustiça reservou.
Pois Não-José salvou o mundo
E ninguém o reparou.
Quem compartilhar vai ganhar um fantástico abraço!!!
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2 COMENTÁRIOS

  1. Parece ser muito bom!
    Adorei aqui, principalmente as entrevistas
    bjo bjo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa! Continua ligada no blog então! A gente está sempre tentando trazer conteúdo legal pra vocês!
      Abraço!

      Excluir

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