<h1>A Roda do Ano</h1>

As principais características de uma religião são seus dogmas e seus ritos. Visto que já discorremos sobre os "dogmas" do Paganismo aqui e aqui, é hora de falar de seus ritos, comumente organizados ao longo do ano com base nas estações e nas datas sazonais, num diagrama conhecido como A Roda do Ano nas tradições europeias e Arco Sagrado nas tradições indígenas.

A Roda do Ano consiste em oito datas sagradas, divididas em dois grupos: os festivais sazonais, ligados ao plantio e à colheita, e os festivais solares, ligados aos solstícios e equinócios, ou seja, ao ciclo do Sol e à mudança das estações.

Festivais Sazonais

Samhaim

Samhaim (pronuncia-se "souen") é uma palavra celta que significa "fim do verão" mas hoje é mais comum se referir a ele como Noite dos Ancestrais. Na Wicca, Druidismo e muitos clãs de Bruxaria Tradicional, é a data mais importante do ano, considerada o ano novo da tradição. Tambem é conhecido como Winter Nights no Odinismo.

Comemorado em 31 de outubro no Hemisfério Norte e 1 de maio no Hemisfério Sul, esse festival é a origem do Halloween, do Dia de Todos os Santos e do Dia de Finados do catolicismo. Os antigos celtas  e nórdicos acreditavam que nesse dia o tecido que separava o mundo dos mortos e o dos vivos ficava mais fino, e a comunicação entre eles era facilitada. Para intimidar os espíritos agressivos, esculpiam-se rostos hostis em legumes (geralmente abóboras e nabos) e deixavam-nos na porta das casas, iluminados por velas. Outro costume do Samhaim era acender fogueiras no topo das colinas para guiar os espíritos de volta ao Outro Mundo. Era o início dos dias frios, quando os fazendeiros marcavam seu gado e acasalavam suas ovelhas para a primavera, sacrificando os animais que não iriam sobreviver ao inverno aos deuses da fertilidade.

Hoje o Samhaim é uma data para se cultuar os mortos de forma muito parecida com o Dia de Finados.

Imbolc

Pronunciado como "im olc", é comemorado em 2 de fevereiro no Hemisfério Norte e 1 de agosto no Hemisfério Sul. Acontece entre o solstício de inverno e o equinócio de primavera, por isso é um festival de esperança, anunciando a chegada de dias mais amenos. Tambem está ligado ao período de lactação das ovelhas e à preparação da terra para o plantio. Conhecido entre os nórdicos como Disting e entre os celtas galeses como Gwil Vorwun (A Festa da Donzela), é o festival da deusa Brighid, que segundo a mitologia celta foi apresentada aos deuses neste dia, jovem e pura, simbolizando a inocência da natureza intocada. Antigamente se comemorava este festival com uma procissão à luz de archotes pelos campos, para purificá-los para o plantio. A sincretização desta data é o Candlemas, festival cristão que celebra a purificação de Maria quarenta dias após dar a luz, conforme a tradição judaica, e o dia de Santa Brígida na Irlanda. 

É um festival dedicado às crianças e suas mães, simbolizando a pureza do que é novo, e tempo de se renovar e deixar o que não serve para trás.

Beltane

Pronuncia-se "beutein" e é a segunda data mais importante da Roda do Ano para as tradições celtas. Comemorado em 1 de maio no Hemisfério Norte e 31 de outubro no Hemisfério Sul, Beltane é o Festival do Fogo, quando a Deusa e o Deus (Wicca) são jovens e consumam seu amor. Acendem-se fogueiras em honra aos deuses solares na véspera do festival, pois o verão está chegando, e é costume pulae essas fogueiras para pedir fertilidade - tanto simbólica quanto literal. No dia seguinte é hasteado o May Pole (Mastro de Maio), um mastro coberto de fitas vermelhas e brancas, seguradas por dois grupos de dançarinos; um círculo de homens, girando em sentido horário, e um de mulheres, em sentido anti-horário.

Entre os celtas era comum os casais jovens se afastarem das festividades para fazer amor sob o luar, pedindo a bênção dos deuses sobre o relacionamento - costume mantido por alguns grupos de tradições celtas. É um festival alegre que celebra a sexualidade, a fertilidade, a juventude e o calor do Sol.

Lughnasadh

Pronuncia-se "lug nasa", tambem conhecido como Lammas (Wicca e Odinismo), do anglo-saxão loafmass. É o Festival da Colheita, ocorrido entre o solstício de verão e o equinócio de outono, 1 de agosto no Hemisfério Norte e 2 de Fevereiro no Hemisfério Sul. Entre o celtas era o festival do deus Lugh, o deus do sol e campeão dos deuses. É o festival da abundância, onde as pessoas confeccionavam bonecos de palha em honra aos deuses da fertilidade, e queimavam os do ano passado (daí surgiu a lenda do Wicker Man). Geralmente a mesa do Lughnasadh é farta de cereais e grãos, ms tambem estão presentes frutas e pães.



Festivais solares

Solstício de Inverno

O Solstício de Inverno, Yule (Wicca e Odinismo) ou Alban Arthan (Druidismo) ocorre em 21 de dezembro no Hemisfério Norte e em 21 de junho no Hemisfério Sul. É o primeiro dia do Inverno e a noite mais longa do ano, quando o Sol atinge o nível mais baixo no céu. Entre os nórdicos era comemorado como o ano novo e muitos dos costumes do Natal cristão vem desta data, como o pinheiro, símbolo do renascimento, as meias na janela, onde as crianças botavam açúcar para o cavalo de Odin, e até o Papai Noel, que era o próprio Odin . Yule, para os odinistas, é um festival em honra a Odin, Frey (deus da paz e prosperidade) e Balder (o deus sol que morreu no verão e renasce agora).

Para os druidas é uma data introspectiva e familiar, que celebra a escuridão e o que virá a surgir do ventre da Natureza.




Equinócio de Primavera

Tambem conhecido como Ostara (Wicca e Odinismo) e Alban Eilir (Druidismo), é o início da primavera, quando o dia e a noite voltam a ter a mesma duração, comemorado em 21 de março no Hemisfério Norte e 21 de setembro no Hemisfério Sul. Entre os nórdicos era o festival da deusa Eostre, onde tinha-se o costume de dar ovos coloridos aos parentes e amigos como símbolo de prosperidade. É uma data alegre, onde os celebrantes se servem de leite, bolo de mel e das primeiras frutas da estação. Tem um simbolismo parecido com o Imbolc, voltado à infância e juventude.


Solstício de Verão

Tambem conhecido como Litha (Wicca e Odinismo) e Alban Helfin (Druidismo), o Solstício de Verão é o dia mais longo do ano, onde se comemora o ápice do Sol e da fertilidade da Natureza. Ocorre em 21 de junho no Hemisferio Norte e 21 de dezembro no Hemisfério Sul. No Odinismo, o deus Balder morre nessa data para renascer em Yule. A noite que antecede o Solstício é considerada mágica; a data é usada para se colher orvalho e ervas, confeccionar varinhas cerimoniais e acredita-se que as fadas estão mais perto dos mortais, concedendo-lhes visões através de sonhos (sim, Sonho de Uma Noite de Verão é inspirado nessas histórias). É a data mais propícia para homenagear o Sol e os seres mágicos da floresta.


Equinócio de Outono

Tambem conhecido como Mabon (Wicca e Odinismo) e Alban Elfed (Druidismo), é o mais tranquilo dos festivais e simboliza o final da colheita. Ocorre em 22 de setembro no Hemisfério Norte e 21de março no Hemisfério Sul. O dia e a noite voltam a ter a mesma duração, e começam os preparativos para o inverno. Divide-se comida em honra aos ancestrais, que nos tempos antigos começavam a estocar alimentos nessa época do ano e dividiam os excedentes da colheita com a comunidade. É uma data de contemplação e agradecimento, e em algumas vertentes da Wicca é a data da iniciação dos novos membros e do rito de Perséfone, a deusa grega que desce ao Submundo e lá permanece por metade do ano.