Notícias De Uma Guerra Particular
é um documentário de 1999, dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund. O
objetivo do projeto era mostrar a repercussão da guerra do narcotráfico na vida
de policiais, traficantes e moradores da favela, mas ele acaba levantando questões muito maiores.
O documentário conta com entrevistas de traficantes, policiais, menores detentos, moradores da favela, um fundador do Comando Vermelho, um líder comunitário, um historiador e um delegado de polícia. Com esse elenco, os diretores conseguiram produzir um produto original e imparcial, visando ampliar os horizontes do espectador, geralmente acostumado a defender um lado da guerra. Ao indagar o delegado e o policial sobre o que eles acham do seu trabalho e da guerra que conduzem, e o traficante sobre como ele mantem seu negócio, a conclusão é muito clara: a própria sociedade é corrupta.
No fim dos anos 70, seis presos políticos juntaram os presos da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, em torno de um único objetivo: formar uma organização criminosa pró-favela e anti-governo. Assim nasceu o Comando Vermelho. Segundo Carlos Gregório, o "Gordo", o Comando Vermelho era uma guerrilha contra a burguesia e o Governo, visando a redistribuição de renda e a justiça social, entrando na favela unicamente para fazer tudo que o Estado não fazia. Mas o Comando Vermelho não existe mais. Seus fundadores estão quase todos mortos, e seus atuais líderes sob custódia. Não há liderança, tampouco organização. Segundo Gordo, o Comando Vermelho é um movimento natimorto, o que existe hoje é um mito, uma sombra. Se o crime do Rio de Janeiro fosse realmente organizado eles já teriam vencido a polícia e estabelecido uma oligarquia invencível nas favelas cariocas; para a nossa sorte, não aconteceu.
Assim se estabeleceu o que as autoridades chamam hoje de "crime desorganizado", um movimento caótico e cada vez mais violento. Então vemos o outro lado da moeda; a polícia.
Assim se estabeleceu o que as autoridades chamam hoje de "crime desorganizado", um movimento caótico e cada vez mais violento. Então vemos o outro lado da moeda; a polícia.
"Um dia tive a oportunidade de chegar ao batalhão pela manhã e ver a munição rasante indo de um morro a outro. Era uma briga de traficantes. Pensei 'em que outra cidade do mundo se vê uma cena dessas sem estar em guerra?'. O Rio de Janeiro está em guerra, uma guerra entre traficantes e policiais." _Capitão Pimentel.
Ao longo das décadas vemos a polícia ficar a cada dia mais sofisticada em suas táticas e mais violenta com o cidadão. Mas a polícia, segundo o próprio Pimentel, é o único agente do Estado que sobe o morro, e ela sozinha não resolve. O combate ao tráfico não pode ser unilateral, não pode se dar exclusivamente pela repressão. Como acabar com um crime organizado que se vale da miséria da população para alimentar suas fileiras?
Sem dúvida o depoimento mais esclarecedor é o de Hélio Luz, delegado da Polícia Civil.
"A Polícia é uma instituição criada para ser violenta e corrupta.A Polícia foi feita para fazer a segurança do Estado e da Elite. Eu faço política de repressão, 'mantenha a favela sob controle', como você vai manter dois milhões de pessoas sob controle ganhando um salário mínimo, e quando ganha? Com repressão. (...) A sociedade quer uma polícia que não seja corrupta? Porque se ela não for, a gente vai atuar na favela e no Posto 9, e vai ter mandato de apreensão em Ipanema."
Nossa sociedade mantem um ciclo vicioso de corrupção e violência simplesmente por querer. A classe média alimenta o tráfico e pede ao Estado que faça a sua segurança; o Estado manda a polícia, que responde com agressão aos traficantes e repressão à favela. O favelado, indignado com a repressão e sem ter como se sustentar, recorre ao crime. O crime agride a sociedade que o alimenta, a polícia volta, cada vez mais violenta; essa é a tal guerra particular do título.
"Você mata um traficante, ele fica com ódio da polícia. Eles matam um policial, você fica com ódio do traficante. É uma guerra particular"
Nossa sociedade mantem um ciclo vicioso de corrupção e violência simplesmente por querer. A classe média alimenta o tráfico e pede ao Estado que faça a sua segurança; o Estado manda a polícia, que responde com agressão aos traficantes e repressão à favela. O favelado, indignado com a repressão e sem ter como se sustentar, recorre ao crime. O crime agride a sociedade que o alimenta, a polícia volta, cada vez mais violenta; essa é a tal guerra particular do título.
"Você mata um traficante, ele fica com ódio da polícia. Eles matam um policial, você fica com ódio do traficante. É uma guerra particular"
Quando perguntam a um jovem detento e a um policial o que eles sentem quando matam, uma coisa fica muito clara: os dois estão anestesiados. Eles não sentem mais a violência que geram, e isso, nos dois casos, é perigoso para a sociedade. A conclusão de Notícias de uma Guerra Particular não é otimista: ninguem parece saber para onde essa guerra vai e nem quando vai acabar.
Baixar o Documentário - Notícias de um Guerra Particular - http://mcaf.ee/d5rae
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