No dia 22 de julho de 2011, o
norueguês Anders Breivik entrou, vestido de policial, no acampamento do Partido
Trabalhista norueguês , numa ilha há 40 km de Oslo, e matou 85 jovens. Neste
mesmo dia, ele também realizou um atentado com bombas caseiras no centro de
Oslo matando mais 7 pessoas. Extremista de direita, Breivik se autodenominava
“fundamentalista cristão”, e era contra o multiculturalismo, a imigração árabe
e o crescimento do Islamismo na Europa.
A reação do mundo foi uma mistura
de repúdio e choque, pois a Noruega é considerada um dos países mais pacíficos
e avançados do mundo, e autoridades de vários países viram o ocorrido como um
alerta. Em entrevista à revista ÉPOCA o delegado carioca Henrique Pessoa disse:
“Fatos como os da Noruega nos preocupam bastante, pois sabemos que há
articulações em nível mundial. Embora pareça algo distante, pode estar muito
mais perto do que imaginamos”.
E está. Veja por si mesmo quantos
sites, blogs, vídeos, etc., feitos por brasileiros defendem a violência e o
ódio contra gays, imigrantes, e negros. Em sua reportagem sobre esse atentado,
a revista ÉPOCA negociou entrevistas com membros de comunidades do Orkut
criadas para homenagear Anders Breivik. Segundo ela, alguns aceitaram responder
a perguntas por e-mail, e cada um enviou os dados pessoais que achou
conveniente. Os depoimentos são impressionantes.
“Os
métodos de Anders são justificáveis. Eu faria o mesmo se tivesse a coragem e
meios necessários. Um homem de coragem, que não quer ver seu país se tornar um
Brasil da vida, cheio de raças, credos e cores, um grande atraso para a
sociedade”, Imenon Bezerra, 20 anos, Belém-PA.
“Não admiro Anders por ser de extrema direita
e neonazista, mas se ele fez isso foi por uma causa que ele luta, e por esse
lado eu o admiro”, Christian, 18 anos, São Paulo-SP.
“(...)Conheço muitos extremistas revoltados com a
discriminação que sofremos por não podermos expressar opiniões contra a mistura
de raças, contra o feminismo, contra o homossexualismo. ” Emerson, engenheiro.
O ódio pelo que é diferente e
“inferior” está no mundo todo, e não seria diferente no Brasil. Basta lembrar
os casos de ataques a gays na Avenida Paulista em 2010 e 2011 e a prisão dos
líderes do grupo neonazista Neuland. Mas me chamou atenção uma particularidade
brasileira citada pela revista.
Xenofóbicos:
(...) No Brasil, eles voltam seu ódio contra imigrantes nordestinos.
Isso me lembrou um filme que
havia visto há pouco tempo.
A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA.
O filme é sobre o nascimento e
expansão de grupos neonazistas em Los Angeles, na década de 1990. Nele, Derek
(Edward Norton) é o líder da maior gangue de skinheads da cidade e é preso por
um assassinato. Três anos depois, seu irmão Danny entrega um trabalho escolar
sobre Mein Kampf, o livro sagrado do Nazismo. O diretor o chama e lhe pede para
escrever uma nova redação.
––
Daqui pra frente sou seu professor de História, e vamos discutir eventos
atuais. Esta aula vai se chamar A
Outra História Americana. Sua primeira
tarefa será preparar uma nova redação para mim.
––
Sobre o quê?
––
Sobre seu irmão. Nessa redação quero que analise todos os eventos que levaram à
prisão de Derek, como eles ajudaram a moldar sua perspectiva atual em relação à
vida na América e que impacto isso causou na sua família.
Com o objetivo de formular a
redação, Danny começa a relembrar e analisar a história de seu irmão e sua
família, seu envolvimento com os skinheads, as brigas entre gangues, etc. O
mais interessante nesse filme, na minha opinião, é que ele não é sobre Neonazismo – esse é apenas o plano de fundo. O filme é
sobre o ódio.
QUANDO A GUERRA CHEGA ATÉ VOCÊ
Derek era um rapaz calmo e sem
interesse político ou social até a morte de seu pai, morto acidentalmente por
um traficante negro enquanto apagava um incêndio. Toda a raiva que passou a
sentir encontrou vazão no Movimento Skinhead. Derek considerava as outras
raças, negros, latinos e asiáticos, responsáveis pela violência e desemprego no
país, e se tornou expoente do Movimento.
Não quero defender ninguém, não
acho que alguém seja inocente numa guerra, mas o homem é produto de seu meio.
Quando a violência o atingiu, quando a guerra chegou até ele, Derek procurou
respostas para suas perguntas, e as encontrou no preconceito racial e xenofobia. Pense em quantos outros, aqui mesmo em nosso país, abraçam o ódio e
a violência como resposta a um mundo violento. E não é de se estranhar, para
mim, que num país com tantos problemas sociais a culpa caia sobre tantas
classes. Se você já se pegou falando mal de políticos, policiais, favelados,
negros, nordestinos, a classe média ou qualquer outro grupo social, você sabe
do que estou falando.
E por que eu me lembrei desse
filme ao ler a matéria da ÉPOCA? Por causa de uma cena em específico. Quando
Derek é preso, passa a trabalhar no setor de lençóis do presídio com um negro.
O negro tenta conversar com ele por vários dias, e Derek fica calado, até que
um dia o negro enrola um lençol como um capuz da Ku Klux Klan, o bota na cabeça
e diz:
––
É isso que vamos fazer, vamos odiar os crioulos. É isso que vamos fazer hoje,
vamos odiar os malditos crioulos. É, é isso que vamos fazer, vamos odiar os
crioulos o dia todo, eu nem sei o que é um crioulo, mas sabe, vamos odiar os
crioulos assim mesmo.
A partir daí, ele percebe que não
tinha um motivo real para odiar os negros, que o fazia por sentir raiva do
mundo. E eu acho que é isso que motiva muitos jovens brasileiros a odiar
migrantes nordestinos ou defender a separação da Região Sul (irônico, pois
culpam migrantes e imigrantes pelos problemas do país quando eles mesmos são
filhos de imigrantes).
O ÓDIO CONSOME
A conclusão do filme, dada por
Danny no final de sua redação, é muito esclarecedora.
O
ódio é um peso, e a vida é curta demais para se estar sempre zangado.
Não culpe uma única classe social
pelos problemas do país, não diga que eles têm um único motivo, porque não têm.
Instalar unidades policiais dentro das favelas não vai acabar com a violência
se a Polícia for o único elemento do Estado que subir o morro. Impedir a
migração ou imigração não vai melhorar o problema do desemprego enquanto os
jovens não tiverem educação básica e formação profissional de qualidade.
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