domingo, 22 de julho de 2012

A Outra História Americana


No dia 22 de julho de 2011, o norueguês Anders Breivik entrou, vestido de policial, no acampamento do Partido Trabalhista norueguês , numa ilha há 40 km de Oslo, e matou 85 jovens. Neste mesmo dia, ele também realizou um atentado com bombas caseiras no centro de Oslo matando mais 7 pessoas. Extremista de direita, Breivik se autodenominava “fundamentalista cristão”, e era contra o multiculturalismo, a imigração árabe e o crescimento do Islamismo na Europa.

A reação do mundo foi uma mistura de repúdio e choque, pois a Noruega é considerada um dos países mais pacíficos e avançados do mundo, e autoridades de vários países viram o ocorrido como um alerta. Em entrevista à revista ÉPOCA o delegado carioca Henrique Pessoa disse: “Fatos como os da Noruega nos preocupam bastante, pois sabemos que há articulações em nível mundial. Embora pareça algo distante, pode estar muito mais perto do que imaginamos”.

E está. Veja por si mesmo quantos sites, blogs, vídeos, etc., feitos por brasileiros defendem a violência e o ódio contra gays, imigrantes, e negros. Em sua reportagem sobre esse atentado, a revista ÉPOCA negociou entrevistas com membros de comunidades do Orkut criadas para homenagear Anders Breivik. Segundo ela, alguns aceitaram responder a perguntas por e-mail, e cada um enviou os dados pessoais que achou conveniente. Os depoimentos são impressionantes.


Os métodos de Anders são justificáveis. Eu faria o mesmo se tivesse a coragem e meios necessários. Um homem de coragem, que não quer ver seu país se tornar um Brasil da vida, cheio de raças, credos e cores, um grande atraso para a sociedade”, Imenon Bezerra, 20 anos, Belém-PA.

Não admiro Anders por ser de extrema direita e neonazista, mas se ele fez isso foi por uma causa que ele luta, e por esse lado eu o admiro”, Christian, 18 anos, São Paulo-SP.

“(...)Conheço muitos extremistas revoltados com a discriminação que sofremos por não podermos expressar opiniões contra a mistura de raças, contra o feminismo, contra o homossexualismo. ” Emerson, engenheiro.

O ódio pelo que é diferente e “inferior” está no mundo todo, e não seria diferente no Brasil. Basta lembrar os casos de ataques a gays na Avenida Paulista em 2010 e 2011 e a prisão dos líderes do grupo neonazista Neuland. Mas me chamou atenção uma particularidade brasileira citada pela revista.

Xenofóbicos: (...) No Brasil, eles voltam seu ódio contra imigrantes nordestinos.

Isso me lembrou um filme que havia visto há pouco tempo.

A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA.

O filme é sobre o nascimento e expansão de grupos neonazistas em Los Angeles, na década de 1990. Nele, Derek (Edward Norton) é o líder da maior gangue de skinheads da cidade e é preso por um assassinato. Três anos depois, seu irmão Danny entrega um trabalho escolar sobre Mein Kampf, o livro sagrado do Nazismo. O diretor o chama e lhe pede para escrever uma nova redação.

–– Daqui pra frente sou seu professor de História, e vamos discutir eventos atuais. Esta aula vai se chamar A Outra História Americana. Sua primeira tarefa será preparar uma nova redação para mim.
–– Sobre o quê?
–– Sobre seu irmão. Nessa redação quero que analise todos os eventos que levaram à prisão de Derek, como eles ajudaram a moldar sua perspectiva atual em relação à vida na América e que impacto isso causou na sua família.

Com o objetivo de formular a redação, Danny começa a relembrar e analisar a história de seu irmão e sua família, seu envolvimento com os skinheads, as brigas entre gangues, etc. O mais interessante nesse filme, na minha opinião, é que ele não é sobre Neonazismo – esse é apenas o plano de fundo. O filme é sobre o ódio.

QUANDO A GUERRA CHEGA ATÉ VOCÊ

Derek era um rapaz calmo e sem interesse político ou social até a morte de seu pai, morto acidentalmente por um traficante negro enquanto apagava um incêndio. Toda a raiva que passou a sentir encontrou vazão no Movimento Skinhead. Derek considerava as outras raças, negros, latinos e asiáticos, responsáveis pela violência e desemprego no país, e se tornou expoente do Movimento.

Não quero defender ninguém, não acho que alguém seja inocente numa guerra, mas o homem é produto de seu meio. Quando a violência o atingiu, quando a guerra chegou até ele, Derek procurou respostas para suas perguntas, e as encontrou no preconceito racial e xenofobia. Pense em quantos outros, aqui mesmo em nosso país, abraçam o ódio e a violência como resposta a um mundo violento. E não é de se estranhar, para mim, que num país com tantos problemas sociais a culpa caia sobre tantas classes. Se você já se pegou falando mal de políticos, policiais, favelados, negros, nordestinos, a classe média ou qualquer outro grupo social, você sabe do que estou falando.

E por que eu me lembrei desse filme ao ler a matéria da ÉPOCA? Por causa de uma cena em específico. Quando Derek é preso, passa a trabalhar no setor de lençóis do presídio com um negro. O negro tenta conversar com ele por vários dias, e Derek fica calado, até que um dia o negro enrola um lençol como um capuz da Ku Klux Klan, o bota na cabeça e diz:

–– É isso que vamos fazer, vamos odiar os crioulos. É isso que vamos fazer hoje, vamos odiar os malditos crioulos. É, é isso que vamos fazer, vamos odiar os crioulos o dia todo, eu nem sei o que é um crioulo, mas sabe, vamos odiar os crioulos assim mesmo.

A partir daí, ele percebe que não tinha um motivo real para odiar os negros, que o fazia por sentir raiva do mundo. E eu acho que é isso que motiva muitos jovens brasileiros a odiar migrantes nordestinos ou defender a separação da Região Sul (irônico, pois culpam migrantes e imigrantes pelos problemas do país quando eles mesmos são filhos de imigrantes).

O ÓDIO CONSOME

A conclusão do filme, dada por Danny no final de sua redação, é muito esclarecedora.

O ódio é um peso, e a vida é curta demais para se estar sempre zangado.

Não culpe uma única classe social pelos problemas do país, não diga que eles têm um único motivo, porque não têm. Instalar unidades policiais dentro das favelas não vai acabar com a violência se a Polícia for o único elemento do Estado que subir o morro. Impedir a migração ou imigração não vai melhorar o problema do desemprego enquanto os jovens não tiverem educação básica e formação profissional de qualidade.

O ódio não resolve nossos problemas, só os piora.


Quem compartilhar vai ganhar um fantástico abraço!!!
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