—Este é o pôr-do-sol mais lindo que já vi... —“porque é o
único em que reparei”.
O homem de cabelos louros, penteados para trás, e
costeletas, olha para o pôr-do-sol do alto de um penhasco á beira-mar. Tira um
maço de cigarros do bolso da calça preta social e retira um cigarro dele.
—Tem um isqueiro, amigo?
Ao seu lado está um homem de idade, também com roupas
sociais e muleta, que retira com dificuldade um isqueiro do bolso do paletó e o
entrega ao seu companheiro.
Henrique não gostava de ser chamado de Sr Camino, mas seu
companheiro, o Sr Churchill, era inglês e nunca abandonou e nem iria abandonar
seus costumes. Embora começasse a perder o sotaque.
—Fico surpreso que ainda se lembre, mas por que não?
O Sr Churchill riu do sarcasmo e lhe disse:
—Quando eu era jovem e vivia com meu avô, que Deus o tenha,
à noite ou ao final de uma tarde agradabilíssima ele me dizia:
“Hoje foi um bom dia para estar vivo.”
A frase ecoou na mente de Henrique. Ele percebeu quanto
tempo perdeu em seu escritório, em baladas, em encontros sociais ridículos.
—Eu deveria estar aqui há muito tempo—a voz mudou, seus
olhos lacrimejaram e ele quase não conseguiu completar seu pensamento, pois foi
tomado pela emoção, pelo arrependimento—Eu perdi tanto...
—Entendo sua frustração, Sr Camino. Se quiser, eu posso
informar sua família de seu “sumiço premeditado”, e pode passar a noite onde o
senhor bem quiser.
—Não é preciso—a essa altura, Henrique já havia se
recomposto. —Hoje foi um bom dia para estar vivo.
O Sr Churchill sorriu para seu amigo. E Henrique completou:
—Estou rezando para ter muitos outros.
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