Eis aí um dos filmes mais “pixarianos” da Dreamworks!
por Leandro Samora
O mainstream da animação hoje em dia é totalmente bipolarizado, e isso é fácil de se perceber. Como fácil também era definir o que pertence a quem: se um filme é bonito, engraçado e emocionante, pode jogar suas fichas na Pixar; se ele ele é só bonito e engraçado, dá-lhe Dreamworks. Assim, podemos jogar de um lado os clássicos que realmente marcam época e levam a audiência às lágrimas, como Up e Wall-E, por exemplo e de outro lado, todos os Shrek. Porém, alguma coisa aconteceu para tirar ao menos um pouco as coisas do rumo em 2010.
Estreiou em março de 2010 nos cinemas Como treinar seu dragão, animação da Dreamworks que já saiu direto em 3D. O filme narra a história de Soluço (dublado de forma excelente e engraçada por Jay Baruchel, o soldado judeu do igualmente excelente Tropic Thunder). Soluço mora numa vila viking acostumada com os conflitos constantes com dragões, que insistem em roubar suas ovelhas. A necessidade provoca a especialização e logo vemos que toda a vila desenvolveu, ao longo dos anos, técnicas para a matança dos cuspidores de fogo – e inclua-se aí cursos preparatórios, manuais e equipamentos próprios. Da mesma forma, os habitantes vivem e respiram o ar da aventura que envolve seu ambiente; todos parecem extremamente à vontade com este ofício menos o franzino e desajeitado Soluço que, para piorar, é filho do chefe da tribo (Gerard Butler, emprestando seu vozeirão espartano ao gigante soldado de capacete chifrado). Cansado do desprezo de todos – incluindo seu pai – Soluço, que tem bastante jeito com invenções mecânicas, bola um jeito de tentar matar o temível dragão Fúria da Noite e conquistar o respeito geral. Mas algo dá errado, e tudo o que o pequeno viking consegue é ferir o dragão e, com o contato com a besta machucada, desenvolve-se aí uma relação de proximidade, o que gera um conhecimento mútuo e a noção de que tudo o que se pensava sobre os dragões está substancialmente equivocado.
O filme tem toques emotivos; é bonito e até mesmo um pouco poético acompanhar a relação do menino com seu dragão e ver como a desconfiança de ambos vai cedendo espaço aos poucos para se desenvolver a aproximação. É difícil definir, mas percebem-se toques, por assim dizer, “pixarianos” na obra. É um filme feito com uma mão mais leve do que geralmente a Dreamworks faz seus desenhos e, se não chega a de fato comover enormemente alguém – é difícil superar a apresentação de Up, por exemplo – dá às pessoas aquele riso bobo e um olhar mais enternecido, como na cena em que o dragão tentar reproduzir com um tronco de árvore o desenho que Soluço faz na areia com um graveto. Pixariano, sem dúvida.
De um modo geral, Como treinar o seu dragão é um filme divertidíssimo. Tem cenas engraçadas, personagens bem construídas – destaque para os dragões, todos diferentes e com características bem próprias – e uma história que tem tudo para ser um chavão enorme, mas que consegue tomar rumos interessantes. Parabéns para a Dreamworks, que conseguiu realizar um filme que tem tudo para ser um sucesso e que parece, finalmente, estar deixando para trás um certo ogro verde que já mostrou bem a que veio… é hora de filmes novos. E emocionantes.
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